sexta-feira, 17 de abril de 2009

SEDUÇÃO COM LAÇO DE FITA

TODO ANO QUANDO CHEGA A PÁSCOA FICO ECOINCOMODADA COM AS EMBALAGENS EXCESSIVAS DOS OVOS E, PRINCIPALMENTE, DA FALTA DE COMPROMISSO COM O MEIO AMBIENTE.
...E A BIÓLOGA MARIUSA COLOMBO TAMBÉM SE INCOMODA E, POR ISSO ESCREVEU ESTE ARTIGO:
Por séculos, na Páscoa, os homens se preparam para homenagear a vida, e o sentido é quase o mesmo no mundo todo, apesar de a origem e o significado variarem de acordo com as culturas.Fato é que não só a tradição chegou até nós como também o hábito de presentear quem amamos com os deliciosos ovos de chocolate. Inicialmente, os ovos eram os originais, cozidos e tingidos com corantes naturais (a partir de frutas e legumes como a beterraba). Esses ovos, enfeitados e representando o renascimento, eram presenteados com o coelho, símbolo da fertilidade.O costume evoluiu e novos hábitos foram incorporados, até que surgiram os ovos de chocolate. Pintados, entalhados de chocolate ou açúcar, o ovo é parte integrante das festividades da Páscoa, e não conheço ninguém que o renunciaria. Você conhece?
Você também deve estar se perguntando o que a história dos ovos de chocolate tem a ver com a consciência ecológica que temos procurado desenvolver, mês após mês, na coluna Meu Planeta(Seleções). E eu responderei: tudo! Você já reparou nas embalagens, maravilhosamente coloridas, nas quais os ovos vêm bem escondidos?Há algum tempo, o jornal inglês The Independent noticiava que as cativantes embalagens representavam de 26% a 45% do peso bruto. Dentre as marcas examinadas, a mundialmente conhecida Lindt obteve o record, com 250 g de papel, plásticos e afins contra 300 g de chocolate. Outra marca, a Dutch Originals, quase igualava o peso de embalagens com o do chocolate: 44%. E aqui, como será que andam os percentuais? Em época de repensar comportamentos, várias questões podem ser examinadas: como evitar tantas embalagens, onde encontrar ovos ambientalmente corretos, quem são os produtores que se preocupam com essa questão?
Eu adoro chocolate – os amargos, com maior teor de cacau e menos calorias. Mas, quando vejo esses ovos lindos, dedicados aos mais gulosos amantes do chocolate, não posso me furtar ao pensamento: Por que ainda não temos uma política ambiental voltada para a reutilização e a redução dos desperdícios também nesse setor.Andei investigando alguns sites para ver como estão os preparativos para a Páscoa e me dei conta de que os desperdícios relativos ao material de consumo (do tipo usa e joga fora) para essa festividade estão em ritmo de crescimento. Descobri que a Cadbury, uma das mais populares produtoras de doces britânicas, está reduzindo a quantidade de embalagens de seus ovos de Páscoa com o objetivo de diminuir os resíduos gerados. Lançou eco-ovos de Páscoa, chamados “Ovos do Tesouro”, que, em vez de serem vendidos dentro de papelões ou plásticos, vêm envoltos em folhas biodegradáveis. Segundo a empresa, usam 75% a menos de plástico e 65% a menos de papelão. Com a medida, esperam produzir menos de 1.130 toneladas de embalagens nesta Páscoa. E menos embalagem significa menos custos.
Infelizmente, em rápida passada de olhos por sites de produtores brasileiros, não encontrei qualquer menção ou ação relativa à redução das embalagens na Páscoa; pelo contrário, as ações são junto aos atacadistas, com objetivo de aquecer pontos de venda e aumentar o consumo, utilizando cada vez mais sacolas e encartes em estandes que se destinam a divulgar o faturamento.
O que fazer, então? Podemos, alternativamente, procurar produtos certificados, o que já evidencia que o produtor buscou, em algum momento do processo de produção, pensar no ambiente. É suficiente? Não acredito. Somos nós, consumidores, que devemos escolher os produtos. Pense se o que está adquirindo vai ao encontro de suas ideias, sua visão, sua filosofia, ou se você está apenas se deixando seduzir pela artificialidade do momento.Quanto às embalagens, tenho certeza que você não ficará com a consciência pesada se fizer escolhas inteligentes. E, ao final, lembre-se: encaminhar as sobras à reciclagem.
Mariusa Colombo é bióloga, especialista em Saneamento Ambiental e mestre em Desenvolvimento Sustentável e Gestão de Sistemas Agroambientais da Universidade de Bolonha, Itália

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