sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Reservas a custo zero


Por: Fernando Reinach (Biólogo)

A expansão de parques e reservas ecológicas é uma estratégia importante para preservar os diversos ecossistemas e proteger a biodiversidade do planeta. Um estudo cuidadoso, feito por ecologistas australianos, demonstrou que a melhor maneira de expandir as reservas é vender parte delas para o setor privado. A ideia, que de início me deixou de cabelos arrepiados, na verdade faz muito sentido.

Atualmente existem mais de 100 mil reservas e áreas de conservação no planeta. Elas cobrem 12% dos continentes e das respectivas águas territoriais. A grande maioria dessas reservas pertence ou é administrada pelo poder público. Também a maioria delas foi recebida como compensação ambiental em projetos de desenvolvimento, doada pelo setor privado ou preservada pela sua beleza natural. Somente uma pequena parte foi escolhida com base na sua capacidade de representar adequadamente os diversos ecossistemas originalmente em cada país. A medida que o número de áreas aumenta, o custo de sua manutenção cresce o que dificulta a aquisição de novas áreas.

Mas o mais preocupante é que, apesar do número crescente de áreas sob proteção, uma grande parte da biodiversidade que está sob risco de extinção não se encontra em áreas protegidas. Mais de 20% das espécies de pássaros ameaçadas de extinção habitam exclusivamente áreas não protegidas. Somente 0,01% dos recifes de coral ameaçados estão em reservas e 83% das plantas ameaçadas na Nova Caledônia se encontram fora de áreas de proteção. O problema enfrentado por todos os países é como proteger esses ecossistemas com o custo crescente da aquisição e manutenção de reservas ecológicas.

Nesse novo estudo, um grupo de ecologistas australianos comparou as 6.990 reservas existentes na Austrália (629 mil km2, ou 8% do território) com o restante das terras australianas. Toda a área, seja ela de reserva, seja ela privada, foi dividida em pequenos lotes de 123 km2. Para cada lote os cientistas determinaram a vegetação existente em 1750, antes da expansão da colonização inglesa no continente, e a atual cobertura vegetal e animal. Além disso eles determinaram o preço atual de cada um destes lotes de terra. Por fim, escolheram as áreas que deveriam ser incorporadas a reservas ecológicas para se obter uma preservação de 15% do ecossistema original da Austrália onde estivessem representados todos os ecossistemas e toda a biodiversidade original. Isto permitiu construir um mapa do que seria hoje o conjunto ideal de áreas a serem preservadas.

Em um segundo passo eles compararam o sistema atual de parques e reservas com o sistema ideal, analisando cada reserva em posse do governo. Descobriram que dos 60 tipos de ecossistemas presentes na Austrália somente 18 estavam representados nas reservas atuais. O próximo passo foi construir um gráfico no qual compararam a efetividade ecológica (sua contribuição na cobertura dos 60 ecossistemas) de cada um dos 6.690 parques com seu custo (o preço de mercado das terras do parque e seu custo de manutenção).

Com base nessa análise foi possível selecionar os 70 parques (1% do total) menos efetivos por seu custo-benefício. Em seguida estudaram o que seria possível comprar com o dinheiro que o governo arrecadaria com a venda destes 70 parques. A venda dos parques para o setor privado e sua liberação para uso comercial arrecadaria US$ 17 bilhões. Mas o que seria possível comprar com esse dinheiro de modo a melhorar o sistema de parques da Austrália?

O resultado é surpreendente. Por causa da variação dos custos de terra, com a verba da venda de 1% dos parques seria possível expandir o sistema de parques dos atuais 629 mil km2 para 5,5 milhões de km2 e aumentar os tipos de ecossistemas protegidos de 18 para 55. Se fossem vendidos os 2% dos parques menos efetivos seria possível expandir o sistema de parques para 6,3 milhões km2, quase 80% do território e proteger 58 dos 60 ecossistemas. A conclusão é que uma análise de custo-benefício associada a uma política de venda dos parques pouco eficientes permitiria à Austrália construir um sistema quase ideal de proteção ambiental sem nenhum custo adicional para o governo.

Como é de se esperar, os resultados provocaram um intenso debate entre os ecologistas. A proposta de venda de parques contraria frontalmente a ideia de que as áreas de preservação são intocáveis e devem ser preservadas a qualquer custo mesmo sendo irrelevantes do ponto de vista da preservação dos ecossistemas. De qualquer maneira, a ideia é revolucionária e vai ser interessante observar o impacto desse tipo de estudo nas políticas de preservação pelo mundo.

MAIS INFORMAÇÕES: REPLACING UNDERPERFORMING PROTECTED AREAS ACHIEVES BETTER CONSERVATION OUTCOMES. NATURE VOL. 466 PAG. 365, 2010

Fonte: http://www.estadao.com.br

segunda-feira, 14 de junho de 2010

ENFISA - Encontros de Fiscalização e Seminários sobre Agrotóxicos 2010

Os Encontros de Fiscalização e Seminários sobre Agrotóxicos foram idealizados como um fórum para discussão técnica e harmonização de procedimentos de fiscalização entre os estados. Sua realização depende da parceria entre instâncias federais e estaduais, bem como do setor regulado. Assim, a Coordenação Geral de Agrotóxicos e Afins (CGAA/DFIA/SDA/MAPA) realiza anualmente um evento nacional e três eventos regionais (Região Norte, Região Nordeste, Região Centro-Sul) contando com a colaboração dos órgãos executores de Defesa Vegetal nos estados em que ocorrem os eventos. O setor de insumos agrícolas participa através de suas associações (Andef, Inpev, Andav, Aenda e Sindag).

Os eventos regionais e o Encontro de Fiscalização Nacional são restritos a fiscais dos órgãos estaduais responsáveis pela fiscalização de agrotóxicos e das associações que representam o setor regulado na condição de ouvintes. O Seminário Nacional sobre Agrotóxicos é aberto a todos os profissionais e estudantes que se interessam pelo tema e que querem receber informação atualizada sobre agrotóxicos no Brasil.

Anote na sua agenda:

  • Encontro de Fiscalização e Seminário Nacional sobre Agrotóxicos, São Luís, MA, 14 a 17 de junho - Centro de Convenções Pedro Neiva

Fonte: http://agrotoxicos2010.webnode.com.br/

segunda-feira, 7 de junho de 2010

SEMANA DO MEIO AMBIENTE NA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA

O grande desafio da atualidade é conciliar o crescimento econômico com sustentabilidade socioambiental, assunto que precisa ser ampliado em discussões para a busca de alternativas sociais, científicas e tecnológicas. Preocupada com este aspecto, a Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão realiza, a partir de amanhã (5), a Semana Estadual de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia. O evento se estende até o dia 11.

No início da tarde de segunda-feira, as inscrições poderão ser feitas em um estande montado em frente ao Escritório Verde, próximo a entrada principal da Assembleia. A participação é gratuita e dará direito a certificado.

A Semana de Meio Ambiente, promovida em parceria com empresas de iniciativa privada, discutirá questões relacionadas ao setor portuário, mudanças climáticas, grandes projetos e suas tecnologias limpas, reestruturação dos sistemas públicos ambientais, política de saneamento e de resíduos sólidos, ciência e tecnologias ambientais, combustíveis limpos e gestão de recursos hídricos. Com o momento pós-crise, o Maranhão se torna foco da atenção de investidores multinacionais e palco de grandes empreendimentos de grande impacto socioambiental, justificando a realização do evento.

“É uma forma de chamar a atenção da sociedade e autoridades de poderes constituídos para temas atuais que envolvem o nosso estado. Essa questão ambiental diz respeito a todos nós, porque somos poluidores e devemos ter consciência disso, buscando alternativas para diminuir esse impacto”, afirmou o coordenador técnico da semana, Oiama Cardoso Filho.

O evento terá participação de deputados estaduais e federais, representantes de instituições públicas e privadas, acadêmicos e palestrantes convidados. Para celebrar o Dia Mundial do Meio Ambiente, será realizada, amanhã, no Parque Botânico da Vale, localizado na Avenida dos Portugueses, Anjo da Guarda, a 3ª Audiência Pública sobre o Código Ambiental de São Luís. O momento será coordenado pela Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal de São Luís, por meio da vereadora Rosa Sales.

A abertura oficial será na segunda-feira (7), a partir das 17h, no Auditório Fernando Falcão, na Assembléia Legislativa. A programação, voltada tanto para questões referentes à capital quanto aos demais municípios do estado, será desenvolvida na sede da Assembleia e a cidade de São José de Ribamar (31km distante de São Luís) sediará o evento na quarta-feira (9).

A semana é fruto da coordenação político-institucional do presidente da Assembleia, Marcelo Tavares (PSB) e os deputados Antonio Bacelar (PV), presidente da Comissão Parlamentar Permanente de Meio Ambiente, Minas e Energia e Alberto Franco (PMDB), presidente da Comissão Parlamentar Permanente de Educação Ciência e Tecnologia. Na organização, o assessor especial da presidência da Assembleia, Oiama Cardoso Filho. Também são parceiros na organização da semana, o Governo do Estado do Maranhão, através da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Secretaria de Estado da Indústria e Comércio e a Prefeitura de São José de Ribamar, além das empresas Vale, Suzano e Petrobras.

SEMANA ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

3ª AUDIÊNCIA PÚBLICA SOBRE O CÓDIGO AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS

Data: 5 de junho de 2010; às 9h.

Local: Parque Botânico da Vale (Av. dos Portugueses, Anjo da Guarda)

Coordenação: Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal de São Luís.

Presidente: Vereadora Rose Sales


SEGUNDA-FEIRA (7/6)

Abertura Oficial, às 17h

Local: Auditório Fernando Falcão; Assembléia Legislativa; Sítio Rangedor; Calhau

Participação: Autoridades, Parlamentares, Coordenadores do Evento e Convidados especiais.


TERÇA-FEIRA (8/6)

LOCAL: Auditório Fernando Falcão; Assembléia Legislativa; Sítio Rangedor; Calhau

8h30/9h30. ÁGUA DE LASTRO E PLANO DE CONTINGÊNCIA DA BAIA DE SÃO MARCOS

Palestrantes: Dra. Maria Luiza Almeida Gusmão (ANTAq) e Dr. Cláudio Lang (Petrobas)

Moderador: Professor Dr. Marco Valério Cutrim (UFMA)

Debates: 9h30h/10h


10h/10h45. PAINEL: MUDANÇAS CLIMÁTICAS E MERCADO DE CARBONO

Palestrante: Professora Drª. Sandra Maria Oliveira Sá (Química; NUGEO - UEMA)

Moderador: Dr. Oswaldo Albino (SEMA)

Debates: 10h45/11h


11h/11h15. INTERVALO PARA CAFÉ


11h15/12h. NOVOS PARADIGMAS NA GESTÃO AMBIENTAL PÚBLICA

Palestrante: Prof.ª Luzenice Macedo (Bióloga, MSC, Consultora Legislativa da ALEMA)

Moderador: Dr. Antonio Fernandes Cavalcante (Ex-Secretário Mun. de Meio Ambiente de São Luís)

Debates: 12h/12h15h


12h15/14h. INTERVALO PARA ALMOÇO


14h/14h45. PALESTRA GESTÃO PÚBLICA DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E CRIAÇÃO DO FUNDO FIDUCIÁRIO PARA AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO.

Palestrante: Márcio Mendonça – Estudo de Caso

Moderador: Dr. Washington Rio Branco (Secretário de Estado de Meio Ambiente; SEMA)

Debates: 14h45/15h


15h/16h. MESA REDONDA - EDUCAÇÃO AMBIENTAL CORPORATIVA E COMUNITÁRIA

Palestrantes: Professora Dra. Flávia Mochel (UFMA) / Dr. Marco Moura (FIEMA)

Moderadora: Dra. Eliane Alhadef (Diretora de Educação Ambiental; SEMA)

Debates: 16h/16h15h


16h15/16h30. INTERVALO PARA CAFÉ


16h30/17h15. CONFERÊNCIA: REFORMA TRIBUTÁRIA AMBIENTAL

Conferencista: Deputado JOSÉ SARNEY FILHO [PV]

Moderador: Dep. Antônio Bacelar (Presidente da Comissão Parlamentar Permanente de Meio Ambiente, Minas e Energia)

Debates: 17h15h/17h30h

17h30/18h. SUMÁRIO DAS MANIFESTAÇÕES E PROPOSIÇÕES DO DIA

Prof. Oiama Cardoso Filho, MSC; Coordenador Técnico do evento; Economista; Assessor Especial da Presidência.

Prof.ª Luzenice Macedo (Bióloga, MSC, Consultora Legislativa da ALEMA)


QUARTA-FEIRA (9/6) – SÃO JOSÉ DE RIBAMAR

LOCAL: Ginásio Esportivo Municipal / Município de São José de Ribamar

Parceria / Apoio / Coordenação Setorial: Prefeitura de S. J. de Ribamar


QUINTA-FEIRA (10/6)

LOCAL: Auditório Fernando Falcão; Assembléia Legislativa; Sítio Rangedor; Calhau.

8h30/9h30. MESA REDONDA - MATRIZ ENERGÉTICA E TECNOLOGIAS LIMPAS

Palestrante: Dr. Edio Rodenheber, Diretor Presidente da Itaqui Energia – UTE Itaqui [Grupo de empresas MPX, EBX e OGX]

Moderador: Dr. Osvaldo Saavedra (UFMA)

Debates: 9h3h/9h45

9h45/10h30. PALESTRA. GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS E A BASE LEGAL

Palestrante: Dr. Raimundo Santos Garrido (Sec. de Meio Ambiente da Bahia)

Representante da empresa Suzano

Moderador. Prof. Oiama Cardoso Filho

Debates: 10h30/10h45

10h45/11h. INTERVALO PARA CAFÉ

11h/12h. PALESTRA. CIÊNCIAS & TECNOLOGIA AMBIENTAIS

Palestrante: Dr. José Maria Ramos dos Santos

Professor Dr. Hamilton Santos Almeida (UEMA)

Representante da empresa Suzano

Moderador: Prof. Sofiany Labidi (UFMA)

Debates: 12h/12h15h

12h15/14h. INTERVALO PARA ALMOÇO

14h/15h. MESA REDONDA - NOVOS PARADIGMAS DO DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL, AMBIENTAL E COMERCIAL DO MARANHÃO

Dr. Maurício Macedo (Sec. de Estado de Indústria e Comércio)

Dr. Washington Rio Branco (Sec. de Estado de Meio Ambiente)

Dr. Fernando Barreto (Ministério Público)

Representante da VALE

Moderador: Dep. Antônio Bacelar

Debates: 15h/15h30

15h30/15h45. INTERVALO PARA CAFÉ

15h45/17h15. PAINEL. PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS E CONSÓRCIOS PÚBLICOS PARA A GESTÃO COMPARTILHADA

Representante da FUNASA: Eng. Luiz Mochel

Representante da CODEVASF

Representante da FAMEM

Moderador: Dr. Luiz Fernando Moura da Silva (Prefeito de S. José de Ribamar)

Debates 17:15h/17:30h.

17h30/18h. SUMÁRIO DAS MANIFESTAÇÕES E PROPOSIÇÕES DO DIA

Prof. Oiama Cardoso Filho, MSC; Coordenador Técnico do evento; Economista; Assessor Especial da Presidência.

Prof.ª Luzenice Macedo (Bióloga, MSC, Consultora Legislativa da ALEMA)


SEXTA-FEIRA – ENCERRAMENTO (11/6)

LOCAL: Auditório Fernando Falcão; Assembléia Legislativa; Sítio Rangedor; Calhau.

8h30/10h. MESA REDONDA - 30 ANOS DO PROJETO GRANDE CARAJÁS

Dep. Federal Gastão Vieira (ex-Secretário de Planejamento e ex-Secretário de Educação do Maranhão)

Eng. Francisco Batista (ex-Secretário Executivo do PGC - Programa Grande Carajás; ex-Presidente da Caema)

Representante da VALE

Eng. Raimundo Barroso (Professor Dr. IFMA)

Sr. Ronald de Almeida Silva; arquiteto urbanista (Assessor; ex-Secretário Municipal de Urbanismo de São Luís; ex-Secretário Adjunto de Indústria, Comércio e Turismo do Maranhão)

Moderador: Dep. Antônio Bacelar; Presidente da Comissão Parlamentar Permanente de Meio Ambiente, Minas e Energia;

Debates: 10h/10h30

10h30h/10h45. INTERVALO PARA CAFÉ

10h45/11h30. PALESTRA: O FUTURO DO CÓDIGO FLORESTAL NA AMAZÔNIA E NO CERRADO MARANHENSE

Palestrante: Deputado Federal ROBERTO ROCHA

Moderador: Dep. PENALDON JORGE (Secretário do Parlamento Amazônico)

Debates: 11h30/12h

12h/13h: CERIMÔNIA DE ENCERRAMENTO DA SEMANA ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE 2010

Balanço Geral da Semana 2010 e propostas de ação

13h: Encerramento do evento

Fonte: http://www.al.ma.gov.br

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Cidades que mais desmataram o Cerrado não conseguiram crescer

Por: Vinicius Sassine

Publicação: 05/2010


As fronteiras agrícolas que ocuparam o Centro-Oeste brasileiro, o norte de Minas Gerais, o oeste da Bahia e o sul do Maranhão e do Piauí sempre foram sinônimo de desenvolvimento econômico e de desmatamento do cerrado, o segundo maior bioma do país e o que sofre a devastação mais veloz e impiedosa. A chegada das plantações de soja a perder de vista — e do milho, do algodão e do gado, em menor escala — foi festejada como a razão do crescimento econômico na região, o que justificaria o desastre ambiental de quase metade do bioma já estar devastado.

Um levantamento do crescimento da produção econômica e da renda das famílias nos 50 municípios que mais desmataram o cerrado entre 2002 e 2008 mostra que, na verdade, o desmatamento empreendido nessas cidades não resultou no desenvolvimento esperado. Em alguns casos, a devastação e o modelo de monoculturas chegaram a provocar uma regressão no Produto Interno Bruto (PIB) dos municípios.

O Correio analisou o movimento da economia em cada uma das 50 cidades que mais devastaram o cerrado em sete anos. Sozinhos, esses municípios desmataram 12,4 mil quilômetros quadrados de vegetação, o equivalente a mais de duas áreas do tamanho do Distrito Federal. A retirada da mata nativa para novas plantações de soja e milho e para novas áreas de pastagem não se traduziu em um desenvolvimento das economias locais acima da média registrada nos outros municípios dos estados, onde o desmatamento não chegou aos níveis detectados nesses 50 maiores desmatadores. Quando se analisa o desempenho dos ganhos individuais dos moradores desses municípios, a influência do desmatamento na geração de riqueza é ainda menor.

As cidades que mais desmataram o cerrado entre 2002 e 2008 estão em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí, Maranhão, Bahia, Minas Gerais e Tocantins. Em 66% desses municípios, o PIB cresceu menos do que o aumento registrado nos estados entre 2003 e 2007, conforme dados atualizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já o PIB per capita, que é o valor do PIB para cada morador do município, teve uma evolução inferior às médias dos estados em 68% das cidades que mais desmataram o cerrado no período.

Depois de a soja modificar os cenários em municípios antes inexpressivos no Maranhão, no Piauí e em Mato Grosso, a dependência exclusiva à monocultura — que substituiu grandes pedaços de mata nativa de Cerrado — gerou uma retração da economia. A evolução do PIB per capita chegou a ser negativa em Balsas, Tasso Fragoso e Alto Parnaíba, no Maranhão; Ipiranga do Norte e Tapurah, em Mato Grosso; e Ribeiro Gonçalves, no Piauí.
Fonte: correiobraziliense.com.br

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Quando as massas seguem sem o saber

(*) Luciano Pizzatto

O Código Florestal Brasileiro não é uma novidade, remonta à década de 30 e só agora gera profundo debate e pressão a favor ou contra, que, contrário do que parece, não é fruto da nova consciência ambiental, mas sim das conseqüências da sua aplicação, cuja factibilidade técnica mostrou erros conceituais primários, de maior ou menor impacto.

E uma lei não é por si justa ou um dogma. Uma lei é instrumento de coexistência em uma sociedade, onde critérios ou princípios aceitos por uma maioria são regulados, para que a sociedade, inclusive os que discordam, possam viver da forma mais justa possível no momento.

O simples exemplo de aplicar dois critérios, um da APP e outro da Reserva Legal, mostra ser matematicamente inviável em algumas regiões e injusto para aqueles com grandes áreas de APPs – totalmente restritiva -, por condições locais topográficas ou hídricas, e ainda precisam manter o percentual adicional de Reserva Legal – no fundo, uma reserva de recurso que hoje se confunde com conservação da biodiversidade e da política climática.

Nesse exemplo, a solução em um novo texto da lei não só esbarra na procura de princípios que, se existem, não se podem relacionar ao tamanho da área, pois devem ser conceituais (os limites de tamanho da propriedade são políticos ou ideológicos), como também é limitada principalmente pela nova sociedade, que não conhece mais o rural, e 80% das pessoas urbanas desconhecem as pessoas rurais.

Nesse sentido, as forças políticas utilizam vários meios, e, intencionais ou não, enfrentamos como maior entrave não a divergência cientifica, mas uma prática de caráter psicossocial envolvendo três fatores dos movimentos de massas: a desumanização do tema, a justificativa moral e o efeito “manada”. Não tratamos mais de indivíduos como o agricultor José ou a Maria, são inumanos, do tipo latifundiário, invasor, madeireiro, pirata, jagunço e outros adjetivos. Temos como justificativa moral a ganância, o lucro fácil, o capitalismo e tantos outros. E, no final da equação, uma “manada”, no conceito das massas voltadas a salvar o planeta frente a imagens diárias de geleiras gotejando, enchentes ou outras motivações, na qual todos correm seguindo o líder de algo ainda não definido, em especial, os interesses envolvidos na manipulação dessas massas.

É tão interessante essa ótica de análise, que a população urbana, na sua maioria, nunca viu pessoalmente um desmatamento, mas todos os dias tem na sua alma que isso é um problema e precisa de solução (e é verdade), mas sai às ruas e vê todos os dias (e não enxerga) a fumaça dos caminhões ou ônibus, usa embalagens de plástico, constrói com cimento e não madeira, vive no meio do lixo, inclusive em praias como Copacabana, consome sempre cerveja gelada a um alto custo energético ambiental e tantos outros que se somam a milhões de usuários poluentes e impactantes, que pouco fazem no seu entorno, mas precisam salvar a Amazônia!

Pessoas precisam readequar o processo de ocupação do meio rural com técnicas conhecidas, como o manejo florestal, o plantio direto e outras, falando para uma maioria que não possui nenhuma motivação para esses temas e ainda é bombardeada por informações ditas “técnicas” dos que formam movimentos sociais e não precisam de registro no CREA ou diploma universitário, pois lutam pela causa messiânica de salvar o planeta.

Como tudo, o salvar, como é a pergunta que se discute na revisão do Código Florestal, precisa ser respondida primeiro com o máximo do conhecimento científico existente, e, posteriormente, ajustadas as condições geossociais de cada região do país e, ainda, das relações e compromissos internacionais.

A revisão não só do Código Florestal Brasileiro, mas de toda a política brasileira, é salutar, mesmo que se limite a uma ampla discussão em sua primeira etapa. O texto da atual lei só é aplicável com o subterfúgio de interpretações que não existem no texto original, caso do “Decreto” de Crimes Ambientais, que criou tipos penais (um absurdo jurídico) ou de conceitos como APPs em lagos e lagoas artificiais, o que, ao pé da letra, levaria a demolir o entorno da lagoa Rodrigo de Freitas, o Palácio Jaburu do vice-presidente e todas as aguadas para carneirinhos e peixes do país.

E não é exagero, apenas uma leitura literal da lei, pois, se forças policiais se deslocam fortemente armadas para prender quem cortou uma árvore no meio rural, pode ser que um dia lembrem que a mesma lei pode levar sirenes às casas que serram árvores caídas por vendaval sobre seus telhados, sem o devido processo de autorização, (como é necessário no meio rural) ou até a falta de APPs nos jardinetes com carpas coloridas de alguns hotéis. Assim é a lei, escrita sem as condições da prática do uso ou o clamor social atual. Por isso estudar mudar, e mudar no que for necessário é avançar.

(*) Luciano Pizzatto: É engenheiro florestal, especialista em direito socioambiental e empresário, diretor de Parques Nacionais e Reservas do IBDF/IBAMA 88/89, deputado desde 1989, detentor do 1º Prêmio Nacional de Ecologia.

Fonte:http://institutoterra.org.br/